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terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Ídolos: Bem-vindos à gala mais esperada

De um lado está o anti-herói. Chama-se Filipe Pinto, é louro, de olhos claros, tem 21 anos e estuda engenharia florestal. Gosta de meditar. Do outro está Diana Piedade, 24 anos. Considera-se "uma cidadã do mundo", tem um ar rebelde e, como marca de água, usa um par de botas tipo Doc Martens e gosta de vestir de preto. A gala final de Ídolos, o programa de talentos da SIC, tinha todos os ingredientes para ser uma receita de sucesso. E conseguiu, atingindo o primeiro lugar da lista de programas mais vistos da televisão de domingo, com quase 1,3 milhões de espectadores.


Filipe Pinto e Diana Piedade (Raquel Esperança).


A chegada aos estúdios da Valentim de Carvalho, em Paço de Arcos, estava marcada para as 21h30. "Vocês não vão acreditar na confusão que está. São 1500 pessoas. O estúdio nunca esteve tão cheio." Nuno Silva, da produtora Fremantle, conduz os jornalistas por entre uma multidão à pinha. Normalmente costumam receber em estúdio um terço das pessoas. Vieram em autocarros, de carro ou como podiam. O ambiente, dentro e fora do edifício, é o de um concerto de grandes estrelas.

Há uma barreira para salvaguardar ocupações de palco com fãs espalmados contra o ferro. Máscaras de Carnaval misturam-se com t-shirts de apoio aos concorrentes Filipe e Diana. Há muitos gritos, máquinas fotográficas e telemóveis em riste, preparados para disparar.

Os apoiantes dos dois concorrentes dividem-se pelas bancadas à pinha: os cartazes por Filipe do lado esquerdo, o coro a gritar por Diana do lado direito. De Matosinhos vieram dois autocarros, patrocinados pelo ex-autarca Narciso Miranda e pela Associação Narciso Miranda-Matosinhos Sempre. Aliás, o ex-autarca é figura habitual das galas, em apoio a Filipe Pinto, natural da terra.

Há ainda público em pé, a vibrar. Aí misturam-se os cartazes e as t-shirts de apoio a ambos os candidatos a ídolos. Há os que olham em redor, perdidos no meio do caos, e os que já tratam cada um dos elementos da equipa de produção pelo nome, como se fossem amigos, e conseguem furar para alcançar locais tão interditos como cobiçados. Esses são os clientes do costume. O calor é muito. Há garrafas de água para todos.

Leonor Cunha, 14 anos, esteve em todas as galas do Ídolos. Veio de Vila Franca de Xira. Os pais trouxeram-na - e a uma série de amigas - como quem traz os filhos à discoteca ao sábado à noite. Depois passam para as vir buscar à hora que for. "Sim, é como se viéssemos à discoteca", reconhece Leonor, muito loura, enquanto duas das sete amigas que a acompanham discutem sobre o correcto apelido de uma delas: "Não é nada Ribeiro Telles! É Bastos, não sejas mentirosa!" Leonor afirma que é a segunda vez que vê aquela barreira entre o público e o palco. "Costumávamos ficar de pé, mas dava para ir para o camarote VIP."

Leonor explica como tudo se processa: "Quando entram o João [Manzarra] e a Cláudia [Vieira] começamos a bater palmas. E temos de bater palmas a todos. Não só àqueles de quem gostamos mais. Está mais ou menos combinado com o Betão", diz a adolescente sobre o trabalho prévio combinado com o animador que põe a multidão a vibrar. Ali não há figurantes. "Nunca pagamos a ninguém", frisa Ana Torres, a produtora responsável pelo Ídolos, alma da máquina das galas.

"Consegues ver, amor?"
As 22h00 aproximam-se. Está na hora da grande finalíssima. Houve-se Let"s Get It Started, dos Black Eyed Peas. E é então que João Manzarra, o apresentador-sensação desta terceira edição dos Ídolos portugueses, entra no palco em grande apoteose: "Ena, vieram todos!", lança o apresentador. O público, bem instruído, responde ao sinal de Betão com uma salva de palmas. "Bem-vindos à gala mais esperada da televisão em Portugal!"

A grande final é anunciada como um combate. Os dois concorrentes, Filipe e Diana, entram de robe de cetim azul, como opositores em pleno ringue de boxe. Os gritos são uma constante: "Diana, Diana!" - de um lado. "Filipe, Filipe!" - do outro. "Consegues ver, meu amor?", pergunta uma mãe preocupada a uma das muitas crianças pequenas que enchem as bancadas. E há quem já boceje: "Amanhã não tens escola, dormes até ao meio-dia", diz outro pai.

Diana aparece de vestido preto, com as botas do costume. Filipe de calças pretas e camisa de quadrados, estilo "grunge". Em dia de namorados, Manzarra promete só canções românticas. A primeira vai ter Laurent Filipe, membro do júri do programa, ao trompete, e Filipe e Diana cantam juntos Summertime. Depois ela, de quem o implacável júri do concurso disse que era "a melhor concorrente" que alguma vez viu, cantaria - sentada num banco alto e em tom intimista - Lover, You Should"ve Come Over, de Jeff Buckley, seguido do frenético Mercy, de Duffy. Ele, de quem disseram ter "uma voz abençoada, com capacidades únicas em Portugal", cantou Letting The Cables Sleep, dos Bush, e Betterman, dos Pearl Jam.

Na plateia há quem orquestre o coro de gritos de apoio e ordene: "Pessoal! Toca a votar com os telemóveis." O concorrente que recebesse mais mensagens de apoio seria o "novo ídolo" de Portugal. O suspense apertava.

A única altura, para além dos intervalos, em que a plateia acalma, é durante a actuação dos GNR com o sucesso de há quase 20 anos Sangue Oculto. O público maioritariamente adolescente não vibra. Os poucos pais presentes pulam aqui e ali. Rui Reininho enumera no final os argumentos que um ídolo deve reunir: "Cortesia, persistência e sorte. Ah, e boas cunhas, também é importante neste país."

Arma da SIC
Já na terceira edição, o Ídolos da SIC continua a ser uma arma da estação em termos de audiências, com resultados acima do milhão de espectadores todos os domingos. Mas é o próprio director de programas, Nuno Santos, a reconhecer que, apesar do programa de caça-talentos ter revelado fenómenos como Luciana Abreu (na segunda edição), foi esta terceira edição que teve mais impacto mediático e melhores resultados: "Tivemos uma equipa de produção muito competente e um júri estimulante e equilibrado. Mas, acima de tudo, tivemos um excepcional grupo de concorrentes."

Nuno Santos acrescenta: "Não é fácil encontrar um programa com este impacto. Mas, para quem não acreditou que, depois do fim de Gato Fedorento, seria possível superar aqueles resultados de audiências, esta é a resposta."

Ana Torres sabe bem o número de pessoas envolvidas na gala da final: "Sei porque distribuí 140 senhas de refeição. É esse o número de pessoas da equipa", diz sobre os que participaram num dia que começou às 10h30 e acabou pelas 2h00 do dia seguinte. Dez câmaras - mais duas do que o habitual noutras galas - e muito fogo-de-artifício são componentes de espectáculo que Ana Torres decidiu introduzir depois de ter passado a contactar com a produção do Ídolos no Brasil. "Termos música ao vivo e concorrentes a cantar sem truques faz toda a diferença. Este público jovem não papa qualquer coisa. E daqui para a frente só se formos para um estádio, com os apresentadores a chegarem de helicóptero." Confessa que isto é uma espécie de sonho.

Mas, apesar de todo o espectáculo montado pela produção, também ela frisa que o segredo do sucesso desta edição do Ídolos é outro: "O grande segredo deste ano são os concorrentes. Tinham muita personalidade e cultura musical."

Chegado o momento do grande anúncio, João Manzarra e Cláudia Vieira abrem o tradicional envelope: "E o próximo ídolo de Portugal é... Filipe!" Lança-se o fogo-de-artifício, os papelinhos prateados esvoaçam por todo o lado. E há muitas lágrimas e palavras embargadas. A euforia instala-se do lado esquerdo da plateia, com chapeús-de-chuva a rodopiar.

Filipe tem um bilhete para a London Music School, onde vai ter aulas. Diana confessa ter uma ou duas propostas que vai avaliar. E vai leiloar as botas de estimação para ajudar o Haiti. Os dois desaparecem na confusão. É tempo de desmontar a festa. Nuno Santos promete nova edição, o mais tardar, para 2011.


-Público (Ana Machado)

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